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quinta-feira, 23 de abril de 2009

Por que os Inteligentes Vivem Mais?

Só o fato de você estar lendo essa coluna já pode valer uns anos a mais! Indica que o leitor tem muito bom gosto, gosta de ciência, tem acesso à informação, é curioso e não é analfabeto. Brincadeiras à parte, o título acima é baseado num fato: pessoas inteligentes realmente vivem mais do que os menos dotados. E que venha a polêmica…
A inspiração para essa coluna veio de um ensaio publicado na revista cientifica Nature (Deary I. 2008), no qual o autor discorre sobre a importância de se descobrir o porquê desse fenômeno. O principal argumento é que a resposta poderia auxiliar a combater deficiências na qualidade do sistema de saúde em diversos locais do planeta menos privilegiados.
Mas será que a ideia de pessoas inteligentes vivendo mais tem algum fundamento científico? O conceito de inteligência não era subjetivo? E os testes de inteligência não estavam todos desacreditados? Para minha surpresa, não. O bom e velho teste de QI, quando aplicado de forma correta, continua sendo ferramenta fundamental nos testes de cognição, e seu uso é amplamente difundido em psicologia. Fatores globais de cognição emergem de diversos testes que medem a habilidade mental, dados esses coletados e replicados desde 1904 para a espécie humana. Em geral, os dados sugerem que a habilidade mental se mantém estável durante a vida da pessoa, tem um componente genético forte e está associada com fatores importantes, incluindo nível educacional, sucesso profissional e mortalidade.
A vingança dos nerds
Existem algumas possíveis explicações para isso. Talvez a maioria das pessoas conclua que pessoas mais inteligentes, com melhor educação e maior leque de atuação profissional tendem a viver em ambientes mais saudáveis. Infelizmente, essa associação não funciona sempre e pode não passar de uma conseqüência da inteligência. Não explica a causa.
Uma explicação alternativa seria que pessoas mais inteligentes teriam a tendência a se engajar em comportamentos mais saudáveis. Existem evidências sugerindo que pessoas com alto QI estão mais preocupadas com nutrição, praticam mais exercícios físicos, evitam acidentes, largam o fumo mais rapidamente, controlam melhor o consumo de álcool e engordam menos na fase adulta. Mas, mesmo assim, todos esses fatores continuam sendo associações e podem estar escondendo alguma outra informação.
Uma ideia é que os testes de inteligência poderiam estar sofrendo interferências de danos cerebrais decorridos de acidentes ou doenças, por exemplo. Nesse caso, a relação do baixo QI e mortalidade alta não seria real, mas decorrente de outros fatores não levados em conta. Por outro lado, alguns estudos também correlacionaram o peso do feto (uma evidência de desenvolvimento normal) com inteligência e não se detectou nenhum problema. É possível que futuros testes detectem algumas dessas condições desconhecidas que interferem na relação do QI com a mortalidade.
Uma outra ideia é que o teste de QI esteja medindo a “homeostase”, ou seja, o equilíbrio mente-corpo do indivíduo, e não só a inteligência. Existem hipóteses que sugerem que a integridade física e a cognitiva envelhecem juntas. Em apoio a essa ideia vem o fato de que a velocidade de reação (o tempo entre a exposição a um estímulo e o aperto de um botão) esteja tão bem correlacionada com a inteligência quanto a mortalidade. O tempo de reação não requer pensamento complexo lógico e não melhora com a educação. Pesquisadores da área estão tentando discriminar entre essa integridade mente-corpo e o que chamamos de inteligência para poder comprovar a relação com a mortalidade.
Tudo isso leva a crer que ainda não existe uma relação causal clara entre o que detectamos como inteligência e a longevidade. Um dos problemas que vejo aqui é a utilização de dados gerados por outros estudos e que não foram desenhados experimentalmente para responder a essa questão. Aliás, aprender a formular a questão correta em ciência (e talvez em outras arenas da vida) é tão importante quanto a própria resposta.
Mas a questão fundamental aqui é: por que morremos, e até que ponto isso pode ser alterado? Mais do que uma filosofia existencial, a busca tem implicações práticas. Os fatores que as pessoas mais inteligentes possuem e que as fazem viver mais devem ser descobertos e compartilhados, criando um sistema de saúde melhor e mais harmônico. Vale a pena a busca.
Alysson Muotri

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