No começo do século VI, o político, filósofo e teólogo romano Boécio (480-524), escreveu um ensaio entitulado “ De institutione musica”. Seu livro sobre música exerceu enorme influência no final da Idade Média – quase todos os autores que então escreveram sobre música o citam – e, durante alguns séculos pelo menos, ele ajudou a evitar que a música se transformasse numa arte totalmente técnica.
Resumidamente, Boécio menciona que existe três tipos de música: música mundana, música cosmica, reconhecida na harmonia dos diferentes corpos celestiais, à medida que se movem pelo céu, e na fusão dos quatro elementos – terra, ar, fogo, água – por toda a natureza; música humana, a harmonia que une o espiritual ao físico na pessoa humana, as partes da alma, tais como o racional e irracional, e as partes do corpo; e, finalmente musica instrumentalis, a música que captamos com nossos ouvidos.
Desde o começo, compreedi que Boécio estava dizendo não que a musica que ouvimos é uma metáfora para o que se passa na alma, mas que a música que criamos com a voz ou instrumentos é uma expressão ou representação da música essencial da natureza e do ser humano. Em nossa própria constiuição, somos musicais, assim como o próprio mundo. A música que ouvimos é uma metafora da natureza humana.
A definição de Boécio para música, extraida de muitas fontes clássicas, acrescenta um elemento muito útil a uma filosofia do encantamento, pois oferece uma imagem estética para o mundo e a vida humana. Nós somos não apenas amalgamação de elementos químicos e descargas elétricas, somos tambem música; e o mundo não é somente uma reunião de átomos e moléculas, é também um trabalho artístico.
Do livro "A Emoção de Viver a Cada Dia" - Thomas Moore
Nenhum comentário:
Postar um comentário